Dia Nacional da Imunização: queda na cobertura vacinal reforça prevenção

Por Douglas Alexandre

No Brasil, a baixa vacinação causa alerta e pode resultar em novos surtos de doenças já erradicadas ou controladas

Devido às baixas coberturas vacinais registradas há pelo menos seis anos, notadamente entre as crianças, o Dia Nacional da Vacinação ganha ainda mais importância nesta segunda-feira, em 17 de outubro, quando a data é comemorada em todo o Brasil, para que toda a população se conscientize do valor da imunização para prevenir doenças. Informações oficiais apontam em 67% o atual índice médio de vacinação no país, abaixo do minimamente adequado, que varia entre 90% e 95%, dependendo do imunizante.

Por virar política pública de saúde e pilar no cuidado geral das pessoas, a vacinação é considerada uma ferramenta de proa para o Brasil acumular experiência e tornar-se referência mundial pelo Programa Nacional de Imunização (PNI), com oferta de vacinas gratuitas para toda a população. Em 18 de setembro, aliás, o PNI completou 49 anos de esforço cotidiano na proteção e combate a doenças.

No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS), com sua capilaridade e expertise em campanhas de vacinação, oferece imunizantes diferentes para diversas faixas etárias. Essa situação, no entanto, vem sendo alterada negativamente desde 2019. Isto porque, pela primeira vez, o país não alcançou a meta mínima de cobertura de vacinação de crianças até um ano.

Mais cenário crítico, passando rapidamente a grave, foi registrado em 2020. É que a tríplice viral, que protege contra o sarampo, a rubéola e a caxumba, por exemplo, e ostenta meta de cobertura de 95%, imunizou menos de 56% das crianças. Fenômeno parecido ocorreu com a pandemia da covid-19, que afastou as pessoas das unidades de vacinação. Os casos de falta de vacinas são cada vez mais recorrentes e levam a que doenças, antes sob controle e até mesmo erradicadas, voltem a incomodar a população.

Para a epidemiologista Carla Domingues, doutora em Medicina Tropical pela Universidade de Brasília (UnB) e mestre em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP), o Brasil, a partir de 2016, registra índices preocupantes de redução da cobertura vacinal, embora a vacinação atue como um dos elementos que mais contribui para a política nacional de saúde pública. A pesquisadora coordenou o PNI do Ministério da Saúde entre 2011 e 2019.

Para enfrentar a falta de vacinação, com o agravante de a sociedade brasileira vivenciar um surto de influenza e de outras epidemias já erradicadas ou controladas, Carla Domingues propõe mobilização nacional por campanhas publicitárias. “Se deixar de vacinar, a população fica prejudicada ou morre. A vacina previne a doença antes mesmo dela acontecer”, alerta.

Para ela, um dos maiores problemas é o desconhecimento do risco das enfermidades. E reitera: “A desinformação e o fenômeno das fake news ou notícias falsas, segundo a qual a vacina faz mal à saúde, deixam a população hesitante. A diminuição dos casos de doenças faz a população imaginar que não precisa ser vacinada”.

Posição da Fenae

Fortalecer o PNI, combater a disseminação de notícias falsas e resgatar o sentimento de confiança das vacinas são alguns dos aspectos mencionados por Sergio Takemoto, presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), na busca para fomentar políticas públicas de saúde em favor da população. “É momento de conscientizar a sociedade brasileira sobre a importância das vacinas e de manutenção do calendário vacinal em dia, com definição de estratégia nacional de proteção coletiva”, emenda. Ele defende que o programa de imunização seja levado a locais de difícil acesso, como comunidades indígenas e ribeirinhas.

A importância da vacinação se reflete ainda no risco de retorno de doenças já eliminadas, como no caso da poliomielite, e de epidemias já controladas, com o aumento de óbitos por sarampo e meningite, por exemplo. É fato: a hesitação sobre vacinas contribuiu para a queda nas imunizações contra a poliomielite, que pode causar a paralisia infantil irreversível em algumas situações. Houve, até mesmo, o registro em 2022 de um caso da doença de um menino de três anos em Santo Antônio do Tauá, no nordeste do Pará, apesar de o último relato de poliomielite, causada pela pólio vírus selvagem, ter ocorrido em 1989, na cidade de Souza, na Paraíba.

No Brasil, graças a campanhas de vacinação, a pólio está erradicada desde 1994, quando foi emitido o certificado da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS).  Só que a doença volta a preocupar quase 30 anos depois, motivada pela baixa adesão não esperada. Por causa desse cenário, a campanha de vacinação contra a pólio foi prorrogada duas vezes consecutivas na edição deste ano.

Informações retiradas na íntegra do site da Fenae

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