Em entrevista à Fenae, a ex-empregada da Caixa e deputada federal falou sobre os recentes casos de assédio na Caixa, defesa das empresas públicas e o futuro do país
“Quando você tem um nível de organização popular e das entidades, você consegue transformar as minorias quantitativas em maiorias. Eu tenho plena convicção disso”! A conclusão é da deputada federal Erika Kokay. Reeleita para mais quatro anos de mandato, a parlamentar, ex-empregada Caixa, é uma figura importante na luta contra o desmonte da Caixa, na defesa dos direitos dos trabalhadores e pela democracia.
Com mais de 148 mil votos, Erika se reelege em um momento importante do país. A crise econômica e a pandemia levaram a população a índices alarmantes: 33 milhões de pessoas passando fome, 13,2 milhões de trabalhadores informais, o maior da série histórica iniciada em 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 9,2 milhões de desempregados.
Em entrevista para a Fenae, a deputada federal Erika Kokay falou sobre a sua reeleição, a atuação na Câmara e sobre a Caixa, com as recentes denúncias de assédio sexual e moral na instituição.
Confira:
Fenae – Deputada Erika, como você avalia a sua reeleição para essa nova legislatura?
Erika – Primeiro um sentimento grande de gratidão. Gratidão a todas as pessoas que apostaram na nossa reeleição e que construíram essa vitória. Eu tive mais de 50 mil votos além do que tive em 2018. Isso é um reconhecimento do mandato! Mas ao mesmo tempo exige um profundo compromisso com cada um. Eu vou honrar cada um para que, essa construção de um mandato de todas as lutas seja em defesa do Brasil.
Nós não podemos mais admitir que tenhamos a repetição do que aconteceu em 2018. Com tantas mentiras e com tanto desvio da discussão. O que é mais importante? A discussão mais importante é o que vai acontecer com esse Brasil, se nós vamos voltar a ter um Brasil sem fome, se nós vamos voltar a ter um Brasil que tem alegria de ser e que não tenha medo de ser feliz. Ou se nós vamos ter um Brasil que está na mão dos que acham que as boiadas podem passar e ferir os nossos próprios corpos. Ou nós vamos ter um Brasil que destrói as suas empresas? Quantos ataques nós da Caixa temos enfrentado?
Então, eu diria que a nossa reeleição é síntese de tudo isso. De todas essas lutas e de uma compreensão que nós temos que os mandatos têm que ser sem paredes, que a gente pode transformar minorias numéricas em maiorias. Quando a gente consegue se articular com a sociedade, com as entidades, com a população, aí a gente transforma minorias em maiorias.
Fenae – Como ficará sua atuação na Câmara para continuar a defesa da Caixa e das empresas públicas?
Erika – As empresas públicas são absolutamente fundamentais. E veja, se você tem um projeto de desenvolvimento nacional, que este governo brasileiro não tem, você vai precisar de empresas públicas.
Quando você não tem um projeto de desenvolvimento nacional, você não gera emprego, não tem preocupação com o mercado interno, nem tem preocupação com as empresas públicas, que são instrumentos estratégicos para o desenvolvimento de um país. O país precisa de crédito, precisa de crédito barato, crédito produtivo, precisa dos bancos públicos para que possa cumprir essa função de ter uma política de desenvolvimento.
Fenae – Deputada, de que forma você avalia o uso político da Caixa?
Erika – As pessoas que estão fazendo isso, têm que pagar. Isso não pode ficar impune. O que aconteceu com a Caixa? Eu entrei na Caixa por concurso público em 82. Eu vivenciei na Caixa vários momentos. Eu entrei antes da democratização do país e ali eu vivenciei várias gestões. Eu penso que, mudando o governo, uma das primeiras coisas que têm que ser feitas é uma investigação, das mais profundas, sobre tudo o que aconteceu com a Caixa. Impedir que nós tenhamos pessoas envolvidas no assédio sexual, no assédio moral, que são destituídas das suas funções, mas adquirem outra função.
Sabem como a Caixa surge? Como fonte de socorro. A Caixa surge financiando as cartas de alforrias e até hoje ela financia a liberdade com a sua atuação. Ela financia a cidadania com a sua atuação. Ela é fundamental como estimuladora ou impulsionadora do crédito habitacional para a população de baixa renda. Ou seja, precisamos da Caixa forte cumprindo a sua função.
A Caixa é muito maior que isso. A gente já enfrentou muitos desafios na Caixa. Muitas tentativas de tirar o poder da Caixa. Muitas tentativas de privatizá-la. Tentativas de fundir os Bancos Públicos Federais para diminuir a sua atuação. Tentativas de transformar a Caixa em um banco de segunda linha. A gente já enfrentou muitos ataques contra a Caixa e a gente sobreviveu a todos esses ataques. E a Caixa vai sobreviver a todo esse assédio que ela está enfrentando.
Fenae – Aconteceram audiências públicas importantes na Câmara sobre o assédio no mundo do trabalho, presididas pela senhora. Agora, como serão os desdobramentos sob esse tema?
Erika – Nós fizemos duas audiências sobre assédio moral e ali nós vamos perceber todo um nível de assédio institucional. E está tendo muito sofrimento dos trabalhadores e trabalhadoras. Essas relações têm que ser revistas e é preciso que nós possamos implementar no Brasil a Convenção da OIT, que assegura uma relação de trabalho onde as pessoas não carreguem sofrimento.
Então, são várias as deliberações e nós vamos encaminhar um Projeto Nacional. Vamos encaminhar toda uma estratégia para que a Convenção da OIT possa ser implementada e vamos criar um observatório. Queremos criar um observatório para assédio, para denúncias de assédio moral e estabelecimento de fluxo. Nessa Política Nacional, nós precisamos estabelecer fluxos, ou seja, a pessoa sofreu assédio, ela recorre a quem? Nós vimos que esse fluxo, ele foi obstruído na Caixa. As pessoas denunciaram, mas aquela denúncia não cumpria uma tramitação que pudesse reparar o direito que foi violado ou que pudesse impedir a continuidade do próprio assédio.
Então é preciso ter uma política de prevenção, de promoção a um ambiente de trabalho sem assédio e, ao mesmo tempo, um fluxo estabelecido para que a denúncia, ao ser feita, possa ter uma tramitação independente da direção da própria empresa e que está sendo acusada de da prática de assédio. Também é preciso que nós tenhamos mecanismos para que você possa atestar quantas denúncias aquela empresa recebeu, quantas tiveram consequência, para que nós tenhamos também uma fiscalização sobre a postura da empresa.
E isso nós estamos trabalhando a partir daquela audiência pública que teve uma participação muito, valiosa da própria Fenae na sua construção.
Fenae – Considerando o cenário que a gente tem econômico político, seus eleitores podem esperar desses próximos anos?
Erika – Primeiro, vamos continuar numa resistência a todas as tentativas de impedir que o Brasil vivencie a sua grandeza e que nós tenhamos a democracia pulsante na nossa nação.
É fundamental que nós possamos aumentar a organização e a participação da população. Nós somos minoria na Câmara, a oposição, e nós conseguimos impedir a tramitação da PEC 32 a partir da disputa de narrativa e a partir da mobilização das entidades. E nós conseguimos muitas vitórias. Nós conseguimos derrotar a resolução da CGPAR, que impedia a liberdade de negociação dos planos de saúde e que acabava, de certa forma, com os planos de saúde de autogestão. Nós conseguimos derrubar isso no Parlamento, e nós somos minoria.
Então, quando você tem um nível de organização popular e o nível de organização das entidades, e você consegue transformar as minorias quantitativas em maiorias, eu tenho plena convicção disso!
Nós vamos trabalhar nessa perspectiva, sempre em defesa da democracia, da liberdade e dos direitos.
Informações retiradas na íntegra do site da FENAE